Tudo perdura no tempo, mas torna-se tão pálido como aquelas fotografia muito antigas que ainda foram fixadas em chapas metálicas. A luz e o tempo retiram das chapas as tonalidade nítidas e características dos traços. É preciso rodar a fotografia e encontrar uma certa refracção da luz para podermos reconhecer na obscura chapa metálica a pessoa cujas feições foram absorvidas pela placa. Deste modo se desvanecem no tempo todas as lembranças humanas. Mas um dia, a luz cai de um lado qualquer e tornamos a ver um rosto, um momento, uma parte de vida.
- Hoje vamos fazer bolachinhas. “Tabuinhas de lavar”.
As meninas, na sua batinha branca, protegida com pequenos aventais, mergulhavam as suas pequenas mãos na farinha transformada em massa de bolachinhas, sobre uma mesa grande debaixo de um caramanchão.
- Mamã, hoje aprendemos a fazer “Tabuinhas de lavar”. Posso fazê-las para o lanche?
As pessoas só se recordam dessas coisas mais tarde. Passam dezenas de anos, atravessam estepes e florestas e, de repente, ouvem os risos de infância, as palavras das professoras, as benevolências da mãe, as palavras antigas.
E aí, apercebem-se que viveram, há muitos anos idos, numa condição maravilhosa, sem nome, num certo estado de graça.
Nada é tão delicado como as relações de infância. Tudo o que a vida oferece mais tarde, os desejos subtis ou brutos, os sentimentos fortes, as ligações de amizade ou paixão, tudo isso é mais rude, mais desumano.
Hoje, partilho convosco, um pedaço da minha infância onde a luz caiu, de um lado qualquer.
Tabuinhas de Lavar
O que preparar:
- 0,5 Kg de farinha de trigo;
- 200g de manteiga;
- 200g de açúcar;
- 1,5 colher de chá de feremnto em pó.
- 1 pitada de sal;
- 3 ovos.