Tinha acabado de chegar do Saara, onde se despenhara no hidro-avião que havia sequestrado com o seu amigo TinTim, depois de terem fugido num bote salva vidas do navio que comandava, por este ter sido tomado por uma quadrilha de traficantes de ópio.
“Chimpanzés”, “ectoplasmas” e outros impropérios saíam da sua boca enquanto me entrava pela porta dentro.
Ao ver a minha cara de espanto, justificou a sua irritação pelo facto de ter encontrado um grupo de beduínos, em pleno deserto que o haviam levado a tal exaltação.
Tinha vindo só porque eu lhe pedira muito mas, a visita seria breve, pois teria de partir para outra aventura com o seu amigo TinTim; este esperava-o.
Por isso, só poderia tomar uma bebida e que não fosse alcoólica pois agora pertencia aos “alcoólicos anónimos” e não tocava numa pinga de álcool há horas.
- Maria, uma bebida onde o álcool não se faça sentir – pedira.
Quis servir-lhe um sumo de laranja. Declinou a oferta.
- Um chá? Uma Cola? Uma limonada?
A resposta negativa repetia-se.
- Maria, quem pensas que sou? – dizia – algum marinheiro da água doce? Já que me fizeste vir aqui, serve-me uma bebida digna de um velho lobo do mar, se fazes o favor! Não me sirvas bebidas infectas, horríveis, abomináveis#<*+
Servi-lhe um Irish Coffee. Bebeu num trago só.
- Com mil milhões de macacos!!! – exclamou – Maria, eu pedi uma bebida onde o álcool não se fizesse sentir, não pedi uma amostra de bebida!!!
Servi-lhe outro Irish Coffee. E outro. E outro.
O telefone tocou.
- Ic, ic, Tin Tim és tu? Sim, vou-me já embora. Com mil raios e trovões, bêbedo eu??? Mas como??? Eu só bebi uma mistela de café com um creme branco que a Maria me obrigou a tomar!!! É claro que por delicadeza aceitei e tive de repetir para ela julgar que gostei, mas na verdade é um extracto de lixívia. Sim, sim, vou já sair. Até já.
Desligando o telefone, com o nariz vermelho e umas rosetas nas faces, piscou-me o olho e pediu com uma expressão marota:
- Serves-me mais um para despedida? Desculpa, tive de dizer ao Tin Tim que não gostava pois ele massacrar-me-ia se adivinhasse o quanto apreciei esse cafezinho pois diria que sou um abusador em me ter aproveitado da tua hospitalidade. Mas na verdade, foi a melhor bebida da minha vida .
Lá lhe servir outro Irish Coffee que bebeu com uma expressaõ de prazer espelhado na face, apesar de estar quase a ferver.
Raios e coriscos, isto é mesmo bom.
E saiu, tal como havia entrado. Num rompante, a praguejar por o telefone estar a tocar novamente.
- Ic TinTim? Ic, ic sim?ic já estou a sair ic. Bêbedo eu? Ic eu já não te disse….
E foi a minha oportunidade de conhecer uma das personagens que mais engraçadas da banda desenhada: o Capitão Haddok, famoso marinheiro das aventuras do TinTim, característico pelos seus praguejares, alcoólico inveterado, mas que pertence aos "alcoólicos anónimos"!!!
Diz que, actualmente é abstémio mas não perde a oportunidade de beber o seu adorado whisky sempre que pode. De preferência dissimulado como o que lhe servi, para ninguém perceber.
E, apesar do capitão e velho lobo do mar que ter baptizado de extracto de lixívia, deixo aqui a receita da bebida que lhe servi pois parece que, afinal, a apreciou bastante. ;)
O que preparar:
Como preparar:
Deitar no fundo de um copo o açúcar e o whisky e mexer bem. Bater as natas com umas gotas de limão até ficarem firmes mas cremosas. Levar ao frigorífico para refrescarem bem, durante cerca de 10’.
Deitar o café bem quente sobre o whisky açucarado e por cima verter as natas bem frias. Servir de imediato.
E é com esta visita insólita que participo no projecto da Ana -Convidei para Jantar, cuja a anfitriã deste mês é a Su com o tema " Personagens de Banda Desenhada que nos Marcaram a Infância".
Há uns anos atrás, bastantes, passeei pelo Sul de Espanha, visitando com tempo e cuidado algumas das cidades mais afamadas. Sob um calor abrasador, era frequente e vulgar haverem tendinhas,nas ruas e em cada esquina, que vendiam granisadas de várias cores e sabores em copinhos com tampas e palhinhas, novidade para mim pois por cá ainda não tinham chegado essa inovações.
Essas granisadas eram como um oásis no deserto; bebíamos com tal sofreguidão que nos ficava a doer o interior do nariz, dor que sentia quando era criança e comia um gelado.
Tenho voltado a algumas dessas cidades e com algum desalento, verifico que essas tendinhas deixaram de existir. Porém, ainda tenho bem presente o sabor da granisada de limão, a minha favorita de então, que hoje aqui a reproduzo.
É um refresco muito agradável que pode servir também de aperitivo substituindo, para melhor, qualquer bebida alcoólica.
O que preparar:
Como preparar:
Colocar a água, açúcar, sumo de limão e o ramo de alecrim, bem como algumas raspas de casca de limão ao lume e deixar ferver em lume brando durante 15’. Passado este tempo, retirar do lume e verter o líquido através de um passador, para um pequeno tabuleiro. Colocar no congelador. Passados 30’, retirar e mexer com um garfo. Colocar outra vez no congelador. Repetir esta acção de meia em meia hora durante 3 horas.
Verter para copos e, acrescentar um pouquinho de água a gosto, conforme gostar mais ou menos denso, e mexer.
Servir enfeitado com folhas de hortelã e beber por uma palhinha.
As quantidades que apresentei rendem 4 copos. Provem e verão que não conseguem parar de beber.
Mãos à obra.