Tal como havia planeado.
Saiu do aeroporto, apanhou um táxi e pediu que a deixassem no meio da cidade.
O ar quente e húmido envolveu-a como uma espuma. Era o ar africano. Era a espuma do tempo.
Os passeios, as casas, as ruas, tudo estava lá. Um pouco negligenciado, é certo, mas tudo continuava lá. Tudo aquilo lhe pertencia, fazia parte de si. O colégio onde andara, as casas dos brinquedos onde sonhara diante das montras em todos os Natais que lá passara pela mão protectora do seu pai, os jardins cheios de acácias rubras onde, depois de jantar e, invariavelmente, os pais a levavam a brincar enquanto ficavam num banco a confidenciar em cumplicidade, tudo o que tinham em comum.
A igreja onde fora baptizada, a capela onde fizera a 1ª comunhão, a catedral nova onde fizera a promessa de escuteira Tudo estava lá.
Queria ver a sua casa. A casa onde vivera com os seus pais e irmãs e onde fora muito, mas muito feliz.
O coração batia-lhe descompassadamente. Será que a casa ainda estava lá tal como se lembrava dela?
Passou pelo cinema onde ia às matinés ao domingo à tarde. Como lhe parecia grande e majestoso quando era catraia. Agora, era um edifício degradado e, afinal, não era assim tão grande.
Chegou finalmente a casa. Sim, a sua casa. As palmeiras frontais ainda lá estavam e, pareceu-lhe ver no bambolear das suas folhas ao vento, um aceno de reconhecimento e de boas vindas. A relva tinha secado há anos. A cor desbotada da fachada mal deixava adivinhar a sua cor original.
Tocou na campainha, a medo.
Deixaram-na entrar. O seu quarto, o quarto dos pais, a sala, a parte das traseiras, palco de tantas brincadeiras de criança e, principalmente, a cozinha onde a sua mãe preparava todas as delícias que lhe haviam ficado retidas na memória..
Ficou parada na soleira da porta da cozinha que dava acesso ao quintal a ouvir a correria e o gargalhar das irmãs, o ladrar do seu cão e… de repente… O chamar da sua mãe!!!
Foi a correr para dentro de casa ao seu encontro; na cozinha, não estava. Mas o cheiro a chocolate derretido, era evidente.
- Fez a mousse! – pensou.Aquela mousse de chocolate com um sabor a algodão doce, como só a sua mãe sabia fazer.
Também não estava na sala. Foi ao alpendre da frente pois, certamente, estariam os dois sentados naquelas cadeiras de tirinhas de plástico;
A sua mãe tinha levado a primeira tacinha de mousse ao seu pai para provar, como o fazia sempre – pensou com ternura.
-Mamã, papá, estão aí????
Só então, se apercebeu que tinham passado 37 anos. Que tudo era passado. Que tinha havido um fim.
Aí, percebeu que, o chamar de sua mãe, aquela algazarra de crianças a brincar, aquele cheiro a chocolate derretido, eram memórias, as memórias de uma infância que se ocultavam nos cantos ocos da casa.
Rompeu num pranto convulsivo.
Despediu-se em silêncio da sua meninice. E, em frente do portão, sobre o cascalho branco, olhou uma derradeira vez para trás e pensou:
-Não se deve voltar aos lugares sagrados.
Mousse de Chococalte com Pimenta Rosa
O que preparar:
1. 200 g chocolate 70% cacau;
2. 400ml de natas frescas;
3. 4 gemas de ovo;
4. 4 colheres de sopa de açúcar;
5. 50g de manteiga;
6. ½ cálice de vinho do Porto;
7. Pimenta rosa em grão.
Como preparar:
Derreter no microondas ou em banho Maria o chocolate juntamente com a manteiga. Mexer energicamente até formar um creme liso e brilhante. Deixar arrefecer.
Bater as natas até formar um creme firme. Juntar o açúcar e bater um pouco mais.
Juntar as gemas, uma a uma ao chocolate e bater bem em cada adição. Juntar o vinho do Porto.
Juntar os dois cremes formados, com algum cuidado para não talhar as natas.
Lavar ao frio algumas horas.
No momento de servir, distribuir em taças individuais e polvilhar com pimenta rosa grosseiramente moída.
Mãos à obra.
________________________________________________________________________________________________________________________________
E com estas história e receita, dou o meu modesto contributo ao passatempo Chocolate e Picante: Um desafio de receitas com história dentro promovido pelos Gourmets Amadores.