Que me perdoem os entusiastas, mas abomino festas importadas. Não lhes acho graça nenhuma pois não pertencem à nossa cultura, aos nossos costumes e tradições. É certo que são muito lucrativas para o comércio mas, se formos relativizar, deixamos de ter contactos com a nossa identidade. E depois disso, o que nos resta?
Isto de se celebrar o dia dos namorados como um dia especial, para mim não faz qualquer sentido. Até porque se olharmos para a postura dos jovens, actualmente, que se descartam de um/a namorado/a com a mesma facilidade com que arranjam novo/a , deparamo-nos a vê-los festejar este dia com um namorado/a diferente todos os anos. Absurdo...
O dia dos namorados deveria ter a velha máxima que o Natal tem: dias dos namorados é quando um homem/mulher quiser.
Numa relação a dois tem de haver dedicação, partilha, respeito, paciência (muita, por vezes) e abdicação. Se não houverem estas coisas, não há dia de namorados que faça sentido; se houverem, então, todos os dias poderão ser" o dia dos namorados".
Porém, apesar desta minha postura acerca do dia 14 de Fevereiro e o que é inerente às celebrações recentemente instaladas no nosso país, esta data sempre foi importante para mim.
No dia 14 de Fevereiro há cento e alguns anos atrás, nasceu a minha avó materna, a vovó velhinha, como os meus filhos a chamavam.
Era uma mulher muito doce, com histórias maravilhosas, umas reais outras, talvez, um pouco fantasiosas, mas que acompanharam e encantaram a minha infância e adolescência.
Vida sofrida foi a sua, criando 4 filhos desde tenra idade, sózinha,, não deixando que faltassem as coisas básicas do comer e vestir, porque não tinha mais ninguém no Continente.A sua terra era longe e não queria para lá voltar. Tinha vindo atrás do que foi o único homem na sua vida, marido e pai dos seus filhos. Aqui, encontrou o seu desprezo e traição e no cais do regresso esperava-a a vergonha e incriminações.
Nunca a conheci com raivas e as suas faltas, não as mencionava.
Recordo-me de, muitas vezes, quando não tinha aulas, trocar o convívio com os meus colegas por tardes passadas com a minha avó. E fazia-o de bom grado. Apanhava o autocarro para casa dela ansiosa por ouvir os relatos das suas histórias de vida. Umas novas, outras repetidas que me levavam a tempos, personagens e terras distantes. Tinha sempre uma expressão apropriada para cada situação e, nunca me deixava vir embora sem comer a sua maravilhosa sopa de feijão, como só ela a sabia fazer. A minha avó foi das pessoas que valeu a pena ter vivido para conhecer.
Morreu no virar do século, sem um queixume, sem um ai. Sabia que ia partir e despediu-se dos mais queridos. Despediu-se de mim com um sorriso e com um até sempre.
Com uma carga emocional muito grande, e com os olhos marejados de lágrimas, a si, minha avó, vovó velhinha dos meus filhos, dedico este meu dia,este meu texto, este meu bolo e os meus pensamentos mais ternos.
Feliz aniversário, onde quer que esteja. Eu sei que está no Céu.
BOLO DE CHOCOLATE:
O que preparar:
- 200g de chocolate 70% cacau;
- 125g de manteiga;
- 8 ovos;
- 7 colheres de sopa de açúcar + 5 colheres de sopa de açúcar;
- Raspa de uma laranja;
- ½ cálice de Cointreau ou outro licor de laranja qualquer.
Como preparar:
Derreter o chocolate juntamente com 3 colheres de sopa de água. Quando estiver derretido e ainda quente, juntar a manteiga mexendo até derreter. Se for necessário, fazer esta operação em cima do lume brando. Reservar.
Bater 4 claras em castelo indo acrescentando aos poucos 7 colheres de sopa de açúcar enquanto batem. Reservar.
Juntar as 4 gemas com os 4 ovos inteiros restantes, mexer bem com uma vara de arames e juntar o Cointreau e a raspa de laranja. Mexer bem e juntar o chocolate. Depois de bem misturado, adicionar as claras em castelo, mexendo suavemente até estarem incorporadas.
Forrar somente o fundo de uma forma de aro, com papel vegetal.
Verter a massa para a forma e levar ao forno pré aquecido a 180ºC durante 40’.
Retirar do forno ao fim deste tempo e deixar arrefecer na forma. Como este bolo não tem farinha, é natural que abata um pouquinho mas não é um problema. É mesmo assim.
O que preparar:
- 4 dl de sumo de clementina oularanja;
- 1 dl de água;
- 3colheres de açúcar ou 50ml de Maple Syrup;
- 1 pacotinho de pó de gelatina incolor sem sabor.
Como preparar:
Partir as clementinas /laranjas ao meio mas ao alto.
Num espremedor de citrinos, espremer o sumo de clementinas ou laranjas, até perfazer a quantidade de sumo desejada. Aproveitar as cascas e retirar-lhes com uma colher, os restos que ficaram no interior.
Levar ao lume 1 dl de sumo da clementina/laranja bem como 1 dl de água, juntamente com o açúcar. Misturar o pó de gelatina no restante sumo que deve estar frio. Quando a mistura de água e sumo ferver, vertê-la para o sumo misturado com o pó de gelatina e misturar bem. Coar este sumo.
Verter com cuidado para as “conchinhas de clementina” e levar ao frigorífico durante pelo menos 3 horas.
Quando a gelatina estiver firme, partir ao meio, com uma faquinha afiada, as metades das tangerinas de molde a ficarem em gomos como os da foto, levar novamente ao frio e ir usando conforme se precisa.
Mãos à obra.
O bolo foi ligeiramente inspirado numa receita do livro "Classic Home Desserts". A receita da gelatina foi inspairada numa receita de Natal do Jamie Oliver. A ideia tão engraçada de colocar a gelatina em cascas de citrinos foi tirada daqui.
E porque, coincidentemente, no dia em que preparo este post, a Laranjinha do lançou um desafio para celebrar o 6º aniversário do seu maravilhoso blog sendo o tema predominante nas receitas concorrentes, a laranja,( vejam aqui) decidi que é com esta que participo em tão simpática iniciativa.