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Então o meu Príncipe, com paciência, com heroicidade, forçando palidamente o sorriso:
-Meus amigos, há uma desgraça...
Dornan pulou na cadeira:
-Fogo?
-Não, não era fogo. Fora o elevador dos pratos que inesperadamente, ao subir o peixe de S. Alteza, se desarranjara, e não se movia encalhado!
O Grão duque arremessou o guardanapo. Toda a sua polidez estalava como um esmalte mal posto:
-Essa é forte!... Pois um peixe que me deu tanto trabalho! Para que estamos nós aqui então a cear? Que estupidez! E pôr que o não trouxeram à mão, simplesmente? Encalhado... Quero ver! Onde é a copa?
E, furiosamente, investiu para a copa, conduzido pelo mordomo que tropeçava, vergava os ombros, ante esta esmagadora cólera de Príncipe. Jacinto seguiu, como uma sombra, levado na rajada de S. Alteza. E eu não me contive, também me atirei para a copa, a contemplar o desastre, enquanto Dornan, batendo na coxa, clamava que se ceasse sem peixe!
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E a cada um o Grão-Duque, escarlate, mostrava com dedo trágico, no fundo da cova, o seu peixe! Todos afundavam a face, murmuravam: ”lá está!” Todelle, na sua precipitação, quase se despenhou. O periquito descendente de Coligny batia as asas, granindo: - “Que cheiro ele deita, que delícia!” Na copa atulhada os decotes das senhoras roçavam a farda dos lacaios. O velho caiado de pó de arroz meteu o pé num balde de gelo, com um berro ferino. E o Historiador dos duques de Anjou movia pôr cima de todos o seu nariz bicudo e triste.
De repente, Todelle teve uma idéia!
-É muito simples... É pescar o peixe!
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No entanto S. Alteza pescava com fervor! Mas debalde! O gancho, pouco agudo, sem pressa, bamboleando na extremidade da guita frouxa, não fisgava.
-Ó Jacinto, erga essa luz! - gritava ele inchado e suado. - Mais!... Agora! Agora! É na guelra! Só na guelra é que o gancho o pode prender. Agora... Qual! que diabo! Não vai!
Tirou a face do poço, resfolegando e afrontado. Não era possível! Só carpinteiros, com alavancas!... E todos, ansiosamente, bradamos que se abandonasse o peixe!
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Eça de Queirós, A Cidade e as Serras
O que preparar:
- 4 tranches de pescada;
- 100g de pasta de azeitona ( ou azeitona triturada);
- 50g de broa de milho esfarelada ( só o miolo);
- 200g de espinafres;
- azeite, sal a gosto.
Como preparar:
Temperar a pescada com um fio de azeite e sal. Misturar a pasta de azeitonas ( que pode ser feita triturando-as) com a broa, um fio de azeite e umas pedras de sal até obter uma pasta.
Cubrir uma das faces da pescada com esta pasta e levar ao forno a cozinhar a 160ºC apenas com a resistência de cima ligada. O peixe deverá ficar junto à resistência de molde a que a crosta fique crocante. Deixar ficar no forno cerca de 15´, dependendo do tamanho das tranches.
Numa frigideira com um fio de azeite e dois dentes de alho esmagados, saltear rapidamente os espinafres.
Escorrer o excesso de água daqueles e servir com a pescada acabada de cozinhar. Poderá ser ainda ter como acompanhamento batatinha cozida com casca.
Mãos à obra.
Receita da autoria do Chef José Avillez